Segredos e mistérios sem fim, conheça ‘Twin Peaks’, a série que revolucionou a TV americana

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Jonathas Lopes

Este ano completou três décadas da estreia na televisão americana da série que mudaria por completo a indústria de seriados televisivos, ‘Twin Peaks’ (1990-1991/2017), um projeto que a princípio parecia mais uma narrativa investigativa, porém resultou em um show recheado de elementos de cunho cinematográfico, os quais são lembrados até hoje.

A série foi criada por David Lynch e Mark Frost e suas duas primeiras temporadas foram exibidas originalmente entre 1990 e 1991 no canal norte-americano ABC. A terceira temporada da série, também conhecida como um revival, foi lançada em 2017 e teve 18 episódios, os quais foram transmitidos pelo canal Showtime.

QUAL A HISTÓRIA?

A trama da série inicia com o aparecimento do corpo de uma jovem chamada Laura Palmer (Sheryl Lee), a qual misteriosamente surge sem vida em um rio da pacata cidade de Twin Peaks. A população local fica abalada com o assassinato e todos querem saber quem foi o responsável pelo crime.

O corpo de Laura é encontrado sem vida. (Foto: ABC).

Logo depois, para solucionar o caso, a polícia local recebe a ajuda de um agente especial do FBI chamado Dale Cooper (Kyle MacLachlan), o qual não demora muito a descobrir que aquela cidade não é tão simples como aparenta e que a morte de Laura não é o único mistério que precisa ser resolvido.

POR QUE FOI UM MARCO NA TELEVISÃO AMERICANA?

Podemos afirmar que na televisão americana existem dois períodos, um antes e um depois de Twin Peaks, e isso se deve a complexidade agregada ao show, ferramenta essa na época restrita apenas ao cinema. No início da década de 90 o público estava acostumado com abordagens mais cotidianas e de fácil consumo como soap operas, sitcoms e narrativas procedurais.

A chegada de Twin Peaks serviu para romper preconceitos e expandir o universo das séries de tv, antes produtos menosprezados e até considerados infantis. David Lynch junto com Mark Frost imprimiu na produção um charme próprio, o qual mais tarde se tornou uma referência – os moldes lynchianos – como ficou conhecido seu estilo cinematográfico.

Twin Peaks rompeu paradigmas na televisão americana. (Foto: Reprodução).

Séries aclamadas como Lost, Fringe e até a superestimada Riverdale são exemplos de produções que embarcaram na mesma linha traçada por Twin Peaks.

Nada em Twin Peaks era tão fácil como aparentava ser, e isso claro, proporcionou ao público da época vivenciar pela primeira vez na televisão aberta uma trama complexa, que apesar de ser ficção, se propôs a demonstrar que nem todas as perguntas podem ser respondidas, assim como nem todas as injustiças são de fato corrigidas.

David Lynch é um dos mais pretigiados diretores do cinema, Ele lançou tendências com o seu estilo ‘lynchiano’. (Foto: Showtime).

Para somar a narrativa confusa da série, Lynch e Frost ainda fizeram uso da abordagem dos sonhos, a qual abriu caminho para um universo extremamente caótico e preenchido por componentes surrealistas, como um anão que pronunciava palavras ao contrário; um assassino perturbado que aparecia por meio de visões; uma senhora que conversava com um tronco de madeira, o qual segundo ela possuía todas as respostas para os mistérios da cidade; um cenário com uma longa cortina vermelha, dentre outros.

O anão e a cortina vermelha. (Foto: ABC).
O homem das visões, também conhecido como Bob. (Foto: ABC).
Margaret ou Log Lady. (Foto: ABC).

Quando esses dois mundos se cruzaram, o sonho e o real, a atmosfera alegre deu espaço a uma trama densa e estranhamente melancólica, marcada por conflitos maniqueístas e até hoje com inúmeras interpretações.

QUEM MATOU LAURA PALMER?

O mistério que prendeu o público na frente da TV e atiçou a curiosidade de todos, afinal, quem era o assassino de Laura? Ao final da primeira temporada da série ninguém sabia a resposta, nem mesmo os próprios criadores. A ideia de Lynch e Frost era exatamente essa, não revelar ou apontar um assassino, pois segundo eles isso não importava, dado que era mais um crime que resultaria sem solução.

O mistério sobre quem matou Laura Palmer atiçou a curiosidade do público. (Foto: ABC).

A insistência em manter o tom realista na trama era evidente e muitos telespectadores não estavam acostumados com isso. Em meio às cobranças, os executivos do canal ABC pressionaram os showrunners, e então, na metade da segunda temporada o assassino de Laura foi enfim revelado.

Após a revelação do assassino, a narrativa seguiu brincando com tramas complexas, enquanto ao mesmo tempo mesclava situações folhetinescas como traições, jogos de ambição e tomada de poder, romances proibidos, dentre outras, porém esses elementos não foram suficientes para prender o público e a audiência caiu. Do posto de um dos programas mais assistidos, Twin Peaks passou a ser um dos menos vistos e então os executivos da emissora decidiram cancelar o show.

Twin Peaks brincava com figuras fora da realidade e isso se tornou frequente ao longo da série. (Foto: Reprodução).

Nesse mesmo período, Lynch se ausentou durante um tempo devido a produção de um filme. Todavia, na reta final o showrunner retornou, e com ele, muitas ideias para encerrar a temporada com grandes surpresas e marcar época na cultura pop. Encerrada em 1991, a segunda temporada de Twin Peaks entregava um final polêmico e marcado pela seguinte frase: “Nos vemos de novo daqui a 25 anos“.

“Nos vemos de novo daqui a 25 anos”. (Foto: Showtime).
A TERCEIRA TEMPORADA, O RETORNO

27 anos depois a série retorna, agora ambientada em 2017, porém com todos os mistérios ainda sem solução. O planejamento era ter retornado exatamente 25 anos depois, porém por problemas contratuais com a emissora Showtime, isso não foi possível. Enigmática como as primeiras, a terceira parte da série foi mais complexa e proporcionou momentos extremamente ambiciosos, como um episódio no qual o principal arco era revelar como o mal se originou.

Cena de Twin Peaks. (Foto: Showtime).
Laura Dern e David Lynch em cena da terceira temporada de ‘Twin Peaks’. (Foto: Showtime).
O episódio 8 da terceira temporada abordou a origem do mal. (Foto: Showtime).
PERSONAGENS CATIVANTES E UMA TRILHA SONORA ENVOLVENTE

Além da narrativa e dos elementos oníricos, Twin Peaks possuí diversos personagens estranhamente cativantes, os quais são responsáveis por grande parte do reconhecimento do produto. Figuras como o agente do FBI Dale Cooper, que amava uma xícara de café; Nadine (Wendy Robie), uma mulher adulta com problemas psicológicos e que pensava ser uma adolescente do ensino médio são apenas alguns dos personagens icônicos que esse universo abordou.

Lara Flynn Boyle, Sherilyn Fenn e Mädchen Amick foram parte do elenco principal da série. (Foto: Reprodução).
Dale Cooper e a sua xícara de café. (Foto: ABC).

A trilha sonora composta com exclusividade por Angelo Badalamenti é extremamente marcante. Não tem como esquecer o incidental melancólico que surgia sempre quando a personagem Laura era mencionada.

EXIBIÇÃO NO BRASIL

Em terras tupiniquins o seriado foi exibido em duas ocasiões, a primeira em 1991 pela Rede Globo, porém acabou tendo uma edição desfavorável e muitas cenas importantes foram excluídas, transformando uma trama confusa em algo indecifrável. Nessa mesma época o Jornal Folha de São Paulo fez uma matéria especial revelando o assassino de Laura. A segunda ocasião foi em 1993, quando a Rede Record exibiu as duas temporadas da série na sequência e sem cortes.

Cena de ‘Twin Peaks’. (Foto: ABC).
TWIN PEAKS E RIVERDALE

Qualquer semelhança entre as duas séries não é coincidência, pois Roberto Aguirre-Sacasa, criador e showrunner da série teen, já declarou ser fã da série de Lynch e Frost. Riverdale é uma das séries com mais referências diretas ao seriado cult dos anos 90, as quais vão deste a própria abordagem sombria a citações feitas em dialógos.

Mädchen Amick em cena de Twin Peaks na década de 90. (Foto: ABC).

Um fato curioso é que a atriz Mädchen Amick, intérprete da personagem Alice Cooper em Riverdale, também fez parte do elenco principal de Twin Peaks, inclusive retornou para o revival da série em 2017 reprisando seu papel de Shelly Jonhson.

O UNIVERSO DE TWIN PEAKS

Além das três temporadas do seriado, a história da pacata cidade ganhou dois longas. O primeiro foi lançado pouco depois da segunda temporada da série, em 1992 e recebeu o título de ‘Twin Peaks: Fire Walk With Me’ (Twin Peaks: Os últimos dias de Laura Palmer, no Brasil) e o segundo trata-se de um compilado de cenas extras intitulado de ‘Twin Peaks: The Missing Pieces’ (2014). O primeiro filme narra os principais acontecimentos que antecedem o cruel assassinato de Laura. Além dos produtos para o cinema e televisão, o universo também se expandiu para os livros.

Tudo está acontecendo de novo. (Foto: ABC).

Deixem recomendações nos comentários, até breve!

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Jonathas Lopes

Amante de teledramaturgia e cinema. Crítico de televisão nas horas vagas, e apaixonado pelo universo Star Wars.

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