“De atriz de telenovelas à secretária da Cultura no Brasil de Bolsonaro”, esta é a manchete que a imprensa internacional repercute relacionando o nome da veterana atriz Regina Duarte de 72 anos com cinquenta anos de carreira na Rede Globo, e que nos últimos dias vinha negociando cargo no atual governo.
Jornais como “El País” e outros de grande alcance fizeram uma reconstrução dos passos da atriz relembrando que ela é proveniente de família de militar e cristã que defendeu a ditadura que assolou o Brasil nos anos 60 e 70 e sempre esteve alinhada com idéias de direita. Eles recordam o apelido que a atriz ganhou de “namoradinha do Brasil” ainda nos anos 1970 devido ao jeito doce de suas personagens, típicas mocinhas apaixonadas em novelas como “Véu de Noiva” e “Minha Doce Namorada”.
A imprensa relembra também papéis de Regina como em “Malu Mulher”, onde ela vivia uma socióloga divorciada que lutava pela sua independência afetiva e financeira enquanto criava uma filha adolescente em meio a uma sociedade majoritariamente patriarcal nos anos 80. O roteiro da trama bem a frente de seu tempo abordava pautas em relação a questões de gênero, em especial, o silenciamento da mulher de diferentes formas no espaço público.
Os jornais chamam atenção para a contradição existente entre ficção e realidade quanto à figura de Regina, essa mesma cresceu sendo enaltecida em sua carreira por personagens consideradas progressistas, porém, na vida real seguiu um caminho totalmente conservador, negando ideias como o feminismo e valorizando o que chama de “princípios morais de uma família” (entenda-se tradicional).
Aliança com a direita
As reportagens enxergam Regina Duarte hoje como a principal artista de projeção nacional em nosso país que se diz declaradamente apoiadora do presidente eleito, Jair Bolsonaro, cujo eles veem como representante da ultra-direita, sendo conservador, racista e homofóbico comprovado em diversas ocasiões.
Os jornais resumem que o maior desafio da antiga namoradinha do Brasil hoje será tentar conciliar a classe artística brasileira resistente ao governo Bolsonaro, grupo o qual ele constantemente ataca acusando de estarem alinhados com ideologias partidárias de viés de esquerda.
Em tempo, Regina Duarte aceitou fazer parte da atual Secretaria da Cultura no governo na última quarta-feira (29) e automaticamente teve seu contrato com a Globo encerrado, visto que uma das cláusulas do canal preveem que seus funcionários não podem exercer funções de caráter público.