“Por Amar Sin Ley” : Dinâmica procedural sob a base de um ritmo inconstante

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Jonathas Lopes

Título original: Por Amar Sin Ley (Para Amar Sem Ley)

Produção: José Alberto Castro

Roteiro: José Alberto Castro, Vanesa Varela e Fernando Garcilita

Direção: Salvador Garcini

Nº de capítulos: 183 (Las Estrellas – 2 temporadas); 184 (Versão internacional)

País/Ano: México/2018-2019

Em 2018 a Televisa resolveu apostar alto em histórias mais curtas e intensas para a barra de novelas das 21h, nasce então o gênero superdrama. A primeira aposta para o ano foi “Por Amar Sin Ley”, remake da trama colombiana “La Ley Del Corazón”, assinada pela dupla de escritores Mónica Agudelo e Felipe Agudelo. Por Amar Sin Ley, anteriormente intitulada “El Despacho” esteve a cargo do produtor José Alberto Castro (Teresa, La Que No Podía Amar).

Pôster promocional da novela. (Reprodução: Televisa).

A nova produção de Castro não só apresentava um novo formato, mas a própria dinâmica da história soava bem distante do que já se havia apresentado no horário estelar da TV mexicana. Isso porque Por Amar Sin Ley gira em torno de um grupo de advogados, os quais são expostos a diversos casos, estes desenvolvidos em uma semana, alguns chegavam a durar duas, algo bem parecido com o formato procedural de algumas séries americanas.

David Zepeda, Ana Brenda e Julián Gil são os protagonistas dessa história. (Reprodução: Univision).

Porém o drama também possui um arco principal, o qual conduz toda a história, embora em um ritmo mais lento. Qualquer telespectador que ficasse sem assistir a novela por uma semana, na seguinte não se sentiria perdido, pois a trama principal pouco andava, os casos, em contrapartida, eram a única novidade a cada semana.

MAS QUAL A HISTÓRIA?

A trama gira em torno de um escritório de advogados conhecido como Vega & Associados. O grupo é liderado pelo renomado advogado Alonso Vega (Guillermo García Cantú). Paralelo a isso, enquanto resolvem os problemas de seus clientes, os advogados que compõem o grupo, também procuram soluções para seus próprios problemas, como o drama de Ricardo (David Zepeda), o qual decide se separar de sua esposa Elena (Geraldine Bazán), após ter descoberto uma traição da mesma, tendo, portanto que dividir a guarda de seus dois filhos, os quais apesar de não serem de seu próprio sangue, os ama como se fossem.

(Reprodução: Televisa).

Fora do escritório Vega & Associados também se encontra Alejandra Ponce (Ana Brenda Contreras), advogada familiar com especialidade em direito internacional. A advogada está às vésperas de seu casamento com o também advogado Carlos Ibarra (Julián Gil). Na noite anterior ao dia do casamento, os amigos de Carlos lhe preparam uma despedida de solteiro e ele passa a noite com uma dançarina chamada Patricia (Maria Jose), a qual amanhece morta no dia seguinte. Na manhã posterior à despedida de solteiro, prestes a selar o compromisso de casamento ao lado de Alejandra, Carlos é preso como principal suspeito da morte de Patrícia.

Carlos é preso no dia de seu casamento com Alejandra. (Reprodução: Televisa).

Após descobrir a infidelidade do noivo, Alejandra decide romper a relação com Carlos e aceita um emprego no escritório comandado por Alonso, onde ela volta a reencontrar Ricardo, o qual lhe ajudou a escapar dos repórteres após o incidente na igreja. A partir de então, em meio a questões familiares e embates jurídicos, as vidas de Ricardo e Alejandra se cruzam pondo a prova o quanto é necessário Para Amar Sem Lei.

(Reprodução: Televisa).
MAS É BOA?

A dinâmica da novela se diferencia do folhetim tradicional, pois o arco principal da trama fica a margem de desenvolvimento, enquanto casos secundários tomam conta da tela. Essa atmosfera faz com que a trama se torne um tanto inconstante, marcada pela ausência predominante de um ritmo padrão ou crescente, atingindo em alguns momentos pontos de muita tensão, porém em outros uma condução bem monótona. Para o público já acostumado com séries estilo CSI, Grey’s Anatomy, Scandal e Bones, Por Amar Sin Ley é um produto que não foge dessa regra, ainda que seja um pouco tímido.

Diferentes casos movimentam a trama. (Reprodução: Televisa).

Apesar da trama remeter a modelos procedurais, a partir da metade da primeira temporada, um arco, que a princípio parecia ser apenas mais um caso, toma frente da história e se torna o grande trunfo da novela, deixando o clima em torno do mistério envolvendo o assassinato de Patrícia em um plano abaixo (fato este contrário à ideia original de “La Ley Del Corazón”, onde o assassinato da dançarina era a grande manobra da trama). Este arco envolve o traficante “El Ciego” (Axel Ricco), o qual se familiariza com Carlos, enquanto este se encontra na prisão. O ex-noivo de Alejandra ajuda Ciego a sair da prisão, gerando um grande problema posteriormente, já que El Ciego não abandona a vida de crime e dessa vez acaba envolvendo o escritório de advogados Vega & Associados.

Axel Ricco brilhou na pele do vilão “El Ciego”. (Reprodução: Televisa).

Como Por Amar Sin Ley era uma trama curta, ao longo de seus 91 capítulos exibidos pelo canal Las Estrellas, algumas tramas ficaram sem conclusão ao final da primeira parte, sendo assim a novela foi renovada para mais uma temporada, a qual estreou no primeiro semestre de 2019 e teve também 91 capítulos. Em seu novo ano Por Amar Sin Ley perdeu alguns personagens, em contrapartida ganhou novos como a advogada Sofia (Kimberly Dos Ramos). Um fato curioso é que Kimberly era uma das atrizes favoritas para interpretar Alejandra na primeira temporada da novela, porém Ana Brenda Contreras aceitou o convite de Castro e acabou ficando com o papel.

Sofia aparece no último capítulo da primeira temporada. (Reprodução: Televisa).

Se na primeira parte a trama já evoluía para um lado mais apoiado no narcotráfico, na segunda parte isso ficou evidente, já que além da turma de “El Ciego” surge outro grupo de traficantes. Partindo disso, a trama já abre sua segunda temporada com cenas de sequestro, perseguição policial, tiroteios e muita violência gratuita. Um fato positivo nessa segunda temporada são os casos internacionais, requerendo que o elenco transite, por longas sequências, com diálogos em inglês.

(Reprodução: Televisa).

A parte disso, a novela não apresentou muitas novidades no roteiro e, mais uma vez!, ao final da segunda temporada, apresentou um final aberto, com oportunidade para uma terceira parte (a qual recentemente foi confirmada pelo produtor).

UMA ADAPTAÇÃO LIVRE

Assim como a grande maioria das novelas do “El Güero”, Por Amar Sin Ley, aproveitou apenas a premissa de “La Ley Del Corazón” e alguns casos, porém praticamente foi uma nova história.

(Reprodução: Televisa).

Um fato curioso foi que José Alberto Castro, após uma longa parceria com a roteirista Ximena Suárez, resolveu também participar da composição do texto da trama e nessa produção se somou à equipe de roteiristas junto com Vanesa Varela e Fernando Garcilita, os quais em outras novelas do produtor eram responsáveis pela coadaptação e/ou edição literária do texto.

(Reprodução: Televisa).

A segunda temporada da trama é totalmente original, com exceção de alguns casos de “La Ley Del Corazón” que não foram utilizados na primeira temporada, como o protagonizado por Marlene Favela, que envolvia uma mãe que seduzia um homem humilde para assassinar um médico, como forma de se vingar por ele não ter ajudado seu filho doente.

(Reprodução: Televisa).
O MELHOR DE “POR AMAR SIN LEY”

CASOS REAIS

Fora alguns casos aproveitados da trama original, a produção de José Alberto Castro se reinventou ao trazer histórias reais para a novela. As situações mais polêmicas envolvem os casos de “Los Porkys de Veracruz”, no qual três jovens ricos dopam e abusam sexualmente de uma garota em uma festa, o caso “El Asesino de Cumbres”, o qual o namorado de uma jovem, após ser rejeitado por ela, teria assassinado o irmão dela e a deixado inconsciente, o polêmico assassinato do cineasta León Serment, a mando de seu filho, Benjamín Serment, dentre outros.

(Reprodução: Televisa).

DIVERSAS PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS

Para compor os casos, o elenco de Por Amar Sin Ley recebia a cada semana atores convidados, dos quais podemos citar: Jacqueline Andere, Danna Garcia, Alfredo Adame, Lisette Morelos, Ana Patrícia Rojo, Alejandro Ávila, Eugenia Cauduro, Mar Contreras, Jorge Poza, Raquel Olmedo, Alejandro Tommasi, Paty Díaz, Daniela Luján, Silvia Manríquez, Laura Carmine, José Ron, Maria José Magán, Margarita Magaña, Renata Notni, Sofia Castro, Jesús Ochoa, Jade Fraser, Carmen Becerra, Juan Carlos Barreto, Marlene Favela, Federico Ayos, Marisol del Omo, Nora Salinas, a cantora Maria Jose, dentre outras participações. Grande parte do elenco da emissora fez alguma ponta na novela.

Eugenia Cauduro participou na segunda temporada. (Reprodução: Televisa).
Lisette Morelos foi Mariana nos primeiros capítulos. (Reprodução: Televisa).
Margarita Magaña fez uma ponta na primeira temporada. (Reprodução: Televisa).
A primeira atriz Jacqueline Andere em cena de “Por Amar Sin Ley”. (Reprodução: Televisa).
María José Magán se destacou nos primeiros capítulos de “Por Amar Sin Ley”. (Reprodução: Televisa).
Nora Salinas viveu Raquel na segunda temporada. (Reprodução: Televisa).
Ana Patrícia Rojo. (Reprodução: Televisa).
Danna García, José Ron e Laura Carmine. (Reprodução: Televisa).

A TRILHA SONORA

As novelas de José Alberto Castro raramente erram na escolha dos temas musicais, e em Por Amar Sin Ley o produtor acertou ao escalar singles como “Te confieso” de Camila (apesar que essa música só tocou nos primeiros capítulos, depois sumiu), “No hay nadie más” de Sebástian Yatra, “Nunca és tarde” de Natália Jimenez e Jesús Navarro, dentre outras canções compostas para a própria novela como “Por Amar Sin Ley” interpretada pelo protagonista da trama, David Zepeda.

O PIOR DE “POR AMAR SIN LEY”

UMA DIREÇÃO PROBLEMÁTICA

Se em folhetins tradicionais a direção de Salvador Garcini já não convence mais, imagina em uma trama moderna e com dinâmica de série, o estrago é atualizado com sucesso.

(Reprodução: Televisa).

A expectativa era algo como Eric Morales, porém “El Güero” errou ao escalar novamente seu parceiro de outras produções, “El maestro Garcini”, como é conhecido pelos atores do elenco (tá mais para “artista do desastre”, by James Franco). A presença de Garcini garantiu cenas sem nenhuma sintonia, com diálogos sendo proclamados a nível jogral militar, atores sobreatuados, etc.

CENOGRAFIA DUVIDOSA

Se por um lado a produção de Castro acertava ao gravar em locações reais, como apartamentos e casas, em outros momentos apelavam para os corredores da Televisa em cenas chaves, além de algumas cenas no tribunal serem em uma sala minúscula com algumas cadeiras, algo bem deplorável para a principal novela da emissora e no horário estelar.

(Reprodução: Televisa).

O núcleo envolvendo o personagem Juan (Victor García) e sua mãe Susana (Letícia Perdigón) remetia a tramas do produtor Larrosa, destoando totalmente dos outros núcleos da novela.

(Reprodução: Televisa).

MUITA VIOLÊNCIA GRATUITA

Tudo bem que era uma novela para o horário das 21h, porém precisava apelar para tanto sangue? Algumas sequências são totalmente desconfortáveis de acompanhar. A novela recebeu selo de classificação indicativa de 18 anos no México!

Isabel e seu filho foram brutalmente assassinados em um tiroteio. (Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
E O ELENCO?

O casting principal da trama foi composto por grandes nomes como Ana Brenda Contreras, David Zepeda, Julián Gil, Altair Jarabo, José Maria Torre, Manuel Balbi, Azela Robinson, Moisés Arizmendi, Kimberly dos Ramos, Erika Buenfil, Ilithya Manzanilla, Geraldine Bazán, Guillermo García Cantú, Roberto Ballesteros. Eva Cedeño, Pablo Valentím, Leticia Perdigón, Issabela Camil, Sergio Bazañez, Alejandra García, dentre outros nomes.

Um elenco cheio de estrelas. (Reprodução: Televisa).

Apesar da direção problemática de Garcini, alguns atores conseguiram se destacar como Manuel Balbi excelente como Leonardo, Altair Jarabo como a independente Victoria, Guillermo García Cantú como Alonso, Julián Gil como Carlos (apesar que no ínicio estava um pouco sobreatuado, porém depois foi melhorando), Axel Ricco como o traficante “El Ciego” (o destaque foi tanto que o personagem que era apenas participação acabou ganhando trama própria na temporada seguinte), Sergio Basañez em seu retorno à Televisa também foi uma grata surpresa como Gustavo.

Altair Jarabo como Victoria. (Reprodução: Televisa).
Julián Gil como Carlos. (Reprodução: Televisa).
Leonardo e Olívia se tornaram um dos casais preferidos do público. (Reprodução: Televisa).

Azela Robinson, apesar de apagada na primeira temporada, na segunda parte ganhou um arco mais forte e denso (sequestro de Jaime e a morte de Alejandra) e se destacou como a excelente atriz que é. David Zepeda, escalado a mando de Rosy Ocampo, uma das poucas vezes que atuou bem foi sob o comando do diretor Benjamín Cann, o qual não foi o caso aqui e esteve no automático a trama inteira.

Azela Robinson foi Paula, mãe de Alejandra. (Reprodução: Televisa).

Ana Brenda defendeu bem sua Alejandra, apesar que a personagem era muito carregada no drama e não tinha alívios cômicos, porém na segunda temporada, nos poucos capítulos que ficou, a atriz foi um grande destaque, principalmente em cenas longas onde precisou falar em inglês.

Ana Brenda interpretou a advogada Alejandra Ponce. (Reprodução: Televisa).

Vale também destacar as performances de Kimberly dos Ramos, José Maria Torre, Moisés Arizmendi e Geraldine Bazán, esta última entregou uma atuação bem natural e sob medida.

Geraldine Bazán como Elena. (Reprodução: Televisa).

Os personagens de Altair e José Maria tinham seus próprios bordões, ele com o seu “Entregáte Victoria” e ela sempre rebatia com um “Tranquilo Bobby”.

(Reprodução: Televisa).
CURIOSIDADES

David Zepeda foi escalado para interpretar Ricardo a mando da produtora Rosy Ocampo, na época vice-presidente de conteúdos da Televisa. Atores como Daniel Elbittar e Erick Elías eram os preferidos de “El Güero” Castro para o papel.

Daniel Elbittar, Erick Elías e David Zepeda. (Foto: Reprodução).

Por Amar Sin Ley estava prevista para ser uma novela curta, porém devido aos bons números registrados, Castro foi acionado a produzir novos capítulos.

Ana Brenda Contreras aceitou compor o elenco da novela por ser uma trama curta, pois já tinha compromissos fechados para o segundo semestre do ano, como a escalação para interpretar Cristal Flores na série Dynasty do canal americano The CW. Porém, com a renovação para uma nova temporada e o final inconclusivo de seu personagem, a atriz de 33 anos, por amizade a Castro, aceitou participar da primeira parte da segunda temporada apenas para concluir a participação de seu personagem (a atriz participou dos primeiros 30 capítulos da segunda temporada). Ana Brenda chegou a gravar Dynasty e Por Amar Sin Ley ao mesmo tempo.

Ana Brenda interpretou Cristal Flores em Dynasty. (Reprodução: The CW).
Ana Brenda fez parte do elenco principal da série na segunda temporada. (Reprodução: The CW).

O elenco teve que abrir mão dos finais de semana para gravar algumas cenas por conta da disponibilidade de Ana Brenda apenas nesse período, uma vez que durante a semana estava em Atlanta gravando Dynasty.

CASOS SEMANAIS E TRAMAS PARALELAS MOVIMENTAM A HISTÓRIA

Por amar sin ley é uma novela atrativa por seu elenco, porém com problemas de ritmo e direção sem sincronia com a dinâmica do roteiro. Todavia, a novela consegue entregar bons momentos e ser um bom entretenimento, com destaque para o desenrolar de alguns casos a cargo do escritório de advogados mais famoso do México.

(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
(Reprodução: Televisa).
Um brinde! (Reprodução: Televisa).

Confira o trailer das duas primeiras temporadas:

PONTUAÇÃO: 6.5/10

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Jonathas Lopes

Amante de teledramaturgia e cinema. Crítico de televisão nas horas vagas, e apaixonado pelo universo Star Wars.

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