Na França, Aya Nakamura conquista feitos de Édith Piaf, ganha apoio de Macron, mas os protestos continuam

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Aya Nakamura, a francesa mais ouvida no mundo, sofre ataques racistas durante os Jogos Olímpicos (Reprodução/France TV)

Parte dos maiores ídolos do esporte francês, no passado e na atualidade, é de origem africana. Com eles, o país sempre se mantem no top 5 na conquista de medalhas olímpicas em toda a história, além de dois mundiais, o de 1998 e 2018.

Mas o cenário de prestígio e respeito muda quando os feitos são de uma figura feminina no campo musical.

É o caso de Aya Nakamura, a francesa mais ouvida ao redor do mundo, que abriu junto a Celine Dion e Lady Gaga os Jogos Olímpicos de Paris a convite do presidente Emmanuel Macron.

Aya Nakamura em performance na abertura dos Jogos Olímpicos de Paris (France TV)

Desde Édith Piaf, na década de 50 e 60, uma cantora francesa não havia impactado na música em âmbito global.

O último a alcançar um feito expressivo cantando em francês foi Stromae, com o hit “Alors on Danse”, em 2009.

Mas Aya Nakamura tem enfrentado uma onda de ataques racistas desde que foi anunciada como atração no evento esportivo.

Grupos protestam contra Aya Nakamura como atração da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris (Redes Sociais)

Num protesto contra a escolha de Macron, franceses levantaram cartazes com a frase “Não tem como, Aya. Aqui é Paris, não mercado de Bamako!”, diz a frase, fazendo referência à capital da Mali, onde a cantora nasceu antes de ser levada ainda bebê para Paris.

A mídia local também atacou Aya com manchetes e reportagens tendenciosas. Numa petição para derrubá-la da abertura Olímpica, teve veículo trocando propositalmente fotos da artista por imagens da rapper Megan Stallion, sugerindo que negros são todos iguais.

Aya Nakamura no clipe Djadja, hit que rompeu recordes e alçou a cantora no campo internacional (Reprodução: YouTube)

Notícias sobre a personalidade de Aya também aumentaram. A autoconfiança lhe rendeu rótulo de arrogante, bem como colocado em discussão os conflitos de vida pessoal que ela enfrentou em relacionamentos passados.

O fato dela nunca ter revelado a identidade do pai de sua primogênita Aïcha também foi destacado nas manchetes.

O Le Figaro, conceituado jornal diário de Paris, descreveu Nakamura como uma figura polarizadora na França.

Aya Nakamura (Divulgação)

Suas letras, em particular, têm sido objeto de debates no país. Isso porque, consideram que seu uso de gírias desvaloriza a língua francesa.

O líder da ultradireita na França, Éric Zemmour, se recusa a dizer que Aya é uma artista que canta em francês. “Ela canta uma língua estrangeira”, disse ele às vésperas das Olimpíadas.

A própria Nakamura já expressou frustração por ser constantemente solicitada a explicar o significado de suas letras.

Aya Nakamura no clipe de “Copines”, um dos maiores sucessos de sua carreira (Reprodução: YouTube)

Ela acredita que isso pode estar relacionado à misoginia, pois “há rappers [homens] que criam letras realmente questionáveis”. Para Aya, sua letra é a linguagem do jovem urbano.

A jornalista Rokhaya Diallo escreveu no The Guardian que a personalidade de Aya, hoje símbolo do empoderamento feminino no país, “pode ​​ser o motivo pelo qual ela atrai uma reação tão hostil em um país que tende a exigir humildade e gratidão das minorias”.

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Cadu Safner

Jornalista e editor-chefe do site Estrela Latina e repórter no portal LeoDias. Passou pela RedeTV!, Band, AllTV e nos portais Terra, Notícias da TV e Observatório da TV (UOL).

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