Salomón Villada Hoyos, o Feid (ou Ferxxo), levou mais de 10 anos para explodir no cenário musical, e quando isso aconteceu, foi distante de qualquer casualidade e a nível global.
Hoje aos 31 anos e com reconhecimento mercadológico potencializado desde “19”, álbum que marcou seu renascimento como artista, o novo astro da indústria reggaetonera colhe os louros de um trabalho executado com muita disciplina e foco desde a infância, quando iniciou aulas de música, entre 9 e 10 anos.
Feid moldou seu gosto musical à medida que foi crescendo
Aos avessos e leigos, parece que o mundo girou e Feid foi lançado como cartucho de pólvora que se espalha até causar uma grande explosão, mas não.
O artista nunca foi um projeto da indústria, e só por isso demorou tanto tempo para carimbar sua marca nos grandes palcos.
Assim como Bad Bunny construiu uma nova identidade para o gênero a partir de sua própria cultura, Feid transformou a linguagem do reggaeton colombiano ao passar por um rebranding bem-sucedido, talvez o mais impressionante no que diz respeito aos nomes da nova geração da música urbana.
Feid não cresceu produzindo reggaeton, moldou seu gosto musical à medida em que foi ganhando notoriedade entre artistas e nomes do mercado.
As referências do cantor paisa
Ainda na adolescência, chegou a aparecer em competições televisivas, época em que foi notado por Snoop Dog, 50 Cent e Nicky Jam devido a sua forte influência do hip hop e trap.
Mas foi Hecton y Tito, do hit “Baila Morena”, a partir do álbum “Parental Advisory Explicit Content”, que fez com que Feid desse conta do gênero musical mais próximo de sua realidade, o gangsta rap.
Daddy Yankke, Tego e principalmente Arcángel, claro, também tiveram uma importante influência na formação do então jovem aspirante.
Quando iniciou a produção de suas própria músicas, Feid, agora mais próximo de Nicky Jam, começou a pedir que suas letras fossem estudadas pelo amigo artista.
Cantor tem versão de hit autorizada por Bruno Mars
Foi então que seu trabalho chegou até Bruno Mars, que sem muita resistência autorizou uma versão em espanhol do hit “Billionaire”, uma parceria com Shako, que veio a se tornar o primeiro grande trabalho em vídeo de Feid, há 10 anos.
Naquele momento, Feid deu início a uma etapa importante da carreira como compositor, ganhando reconhecimento da classe artística.
“Secretos”, sua música com Reycon, explodiu em seguida, alcançando mais prestígio e despertando interesse de J Balvin, que logo o contratou para sua equipe de compositores, tendo Sky como um dos líderes da equipe.
Sky, então, começou a abrir novos horizontes para Feid por trás das cortinas do Estúdio Infinity. Já Nicky Jam, Balvin e Reycon, acreditavam e o estimulavam a estar na frente do vídeo, nos palcos, com microfone em mãos.
Ascensão com parcerias de sucesso
Assim Feid redesenhou seu projeto de carreira solo. E graças a Balvin, ele conseguiu voltar ao mercado com “Que Raro”.
Em pouco tempo na Infinty, ele estava creditado nos sucessos “Ginza”, que ganhou versão com Anitta, trabalhou com Sebastián Yatra (Que Tengo que Hacer), Piso 21 (Querida) e CNCO (Mamita).
De tanto compor, adquiriu uma sensibilidade muito particular que podem facilmente ser identificadas em suas músicas, com fortes influências pop, rap, trap, e nas melodias que se caracterizam do reggaeton da época de DJ Negro, pioneiro da música urbana como conhecemos, ou seja, para “perrear” de duas ou mais pessoas.
Mas com o tempo, as músicas de Feid passaram a transitar entre beats de trap, balada e dembow, ganhando tons harmônicos que funcionam muito bem em qualquer que seja o remix.
A evolução de 2015 para 2020
O Feid de “19“, seu segundo álbum de estúdio e primeira grande amostra de evolução, e Ferxxo (Vol. 1: M.O.R), no ano seguinte, em nada se parece com o astro que conhecemos hoje, embora qualquer coisa dos projetos se afastem da desastrosa “Así como Suena”.
“19” marca uma evolução, porém, é possível ter uma ideia mais geral disso com “Quiero”, que apresenta uma produção musical que não havia sido visto em trabalhos passados de Feid.
Foram várias mudanças drásticas de bits, principalmente, se tornando algo mais experimental, com sensação de low e hip hop, sobrepondo o reggaeton, sem ser entendida como música para um único momento, ocasião ou determinado espaço.
Cultura colombiana inserida no reggaeton
Feid também começou a inserir em suas músicas a “parla paisa” (maneira peculiar e envolvente como os nativos de Medellín falam), como por exemplo, “tu eres mía parce, que se jodan”, trecho de “Quiero”. Tudo isso veio a ficar ainda mais forte nas características artísticas do cantor.
Com Ferxxo (Vol. 1: M.O.R) ele encontra totalmente sua identidade, numa época de quarentena, onde todas as casas de shows e baladas, onde geralmente os artistas do reggaeton começam e as músicas são muito mais consumidas, estavam fechadas.
A música de Feid explodiu por se encaixar bem em situações diversas, até nos momentos mais tranquilos com suas narrativas românticas e melodias polidas e de muita identidade.
Como citado acima, a comunicação paisa, os bits peculiares com toques mais alternativos, lhe renderam temas como “Nea”, “Chimbita” e “Si Tu Supiera”.
Transformação de imagem e marca
Feid colocou a irmã e o pai, que são designers, para cuidar da parte gráfica de seus projetos. Eles assumiram o posto a partir do álbum “19”, ele faz o desenho e ela o diagrama. Juntos eles chegaram ao conceito de [a]MOR, que o identifica com paleta de cores inconfundíveis e contemporaneidade.
Suas vestimentas também mudaram muito, se diferenciando dos demais reggaetoneros, que geralmente usam roupas básicas somadas a um estilo de óculos e bonés. Até mesmo a maneira de intitular uma música mudou.
Feid passou a incluir a letra “X”, derivada de Ferxxo, para determinadas letras e títulos. É uma identidade muito marcada e de linguagem sumamente colombiana, que foge ao estigma e costumes porto-riquenhos.
Com a explosão tardia após 10 anos de dedicação, para o público geral é como se Feid tivesse lançado dois discos até o momento. Mas hoje, ao redor do mundo, ele é tão popular quanto J Balvin.
Feid constróis sua carreira com base no que realmente sabe fazer. Além de cantor, compositor e produtor, também é guitarrista e toca piano.
Para a carreira, ele traduziu a palavra Faith (Fé) e assim passou a assinar artisticamente. Mas as pessoas começaram a modificar o tom da pronuncia e ficou Feid. Desde 2017 é contratado da Universal Music.
Por que Ferxoo? Seu amigo e produtor Sky o apelidou de Ferxxo para não dizer Feid. Assim, o novo astro colombiano seguiu provando que seu sucesso não foi uma causalidade.
A cor verde o representa
“A cor verde é esperança, as montanhas de ‘Medallo’ (Medellín), da Antioquia, de onde viemos, claro, a prosperidade. É um núcleo de coisas”, revelou ele em entrevista ao programa El Hormiguero.