“Obrigada Brasiiilll!”: assim profere uma das participantes do reality show Olimpo – A Casa dos Deuses, ao eliminar outra competidora e continuar no jogo. A atração em si é o ponto de partida para uma verdadeira corrida pela sobrevivência, a engrenagem da série Reality Z, lançada nesta terça (10) na Netflix. E, mais que o reality, a fictícia emissora onde ele é produzido também se torna um cenário determinante para todo o desfecho.
Fortaleza para os vivos, a casa do Olimpo e toda a sua dinâmica apresentada em doses exageradas durante os 10 episódios, provou que a criatividade do experiente Claudio Torres (A Mulher Invisível/2009 – O Homem do Futuro/2011) esteve totalmente concentrada e/ou limitada à atração televisiva mais popular e engajada da televisão brasileira: o Big Brother, há 19 anos no ar pela TV Globo.
Logo no primeiro episódio as referências ao reality global por pouco menos estariam abaixo da demanda. De bateção de panela alá Tina no BBB2 a barraco por comida, o Reality Z apresenta uma sequência de fórmulas manjadas pelo público, incluindo participantes que formam casal e são separados por uma eliminação batizada de “Sacrifício”, uma representatividade do temido “Paredão”.
A certa altura da história dá-se a impressão que Tiago Leifert pode surgir a qualquer momento com o bordão “É fogo no parquinho”. Mas não, para isso a produção escalou Sabrina Sato como Divina, apresentadora do Olimpo. O fogo mesmo toma conta da cidade do Rio de Janeiro, local onde os ataques dos zumbis acontecem de maneira descomunal.
Divina é enérgica, carismática e tem todos os atributos necessários para a função, até mesmo o estrelismo nos bastidores. Tá ai uma personagem desaproveitada. Talvez a permanência de Divina tornasse a história mais empolgante. Mas o game seguiu sem ela.
Sua morte, justificada de certa maneira como vingança de Brand (diretor do programa), personagem de Guilherme Weber, abriu outras margens para o que viria adiante.
Brand foi um personagem brilhantemente construído, talvez outro ator não tivesse segurado tão bem quanto Weber o fez. Erro imperdoável o tom cômico dado ele, certamente um equívoco de direção.
Quebrou todo o clima da história e perdeu-se oportunidades de inserções dramáticas e de tensão que pudessem dar ganchos mais interessantes. Trash por trash, se o espectador não se sente convencido sobre determinada situação, nem o lado cômico salva.
E por este caminho, Claudio Torres poderia ter estudado um pouco mais da obra de José Mojica Marins, o Zé do Caixão (1936-2020). Embora seja um trabalho de arte, figurino, cenografia e maquiagem inquestionável, por sinal, surpreendente, o Reality Z apresentou uma trilha sonora completamente destoante.
A série explora o sonífero Muito Romântico na voz de Caeteano Veloso e as melódicas Rosa de Hiroshima de Secos & Molhados e Panis Et Circenses de Os Mutantes. Não encaixou!
Na metade da história ainda não tinha ficado claro aonde queriam chegar. Pouco se resolve e todo o elenco do Olimpo já tinha virado zumbi. A partir de então, o entra e sai de personagens fez da produção um verdadeiro caos. Existe uma brusca troca de elenco no melhor estilo “piscou perdeu”.
Uma fila de novos personagens vão entrando na história e complicando ainda mais a vida daqueles que poderiam ser os heróis. Não deu tempo para gravar o rosto de ninguém, nem o nome, tampouco criar certa afetividade ou torcer para algum deles.
Quem parecia ser protagonista, na verdade eram meros participantes. O Reality Z foi baseado na aclamada produção britânica Dead Set, criada por Charlie Brooker (Black Mirror), mas faltou foco no que realmente interessava. Toda história tem que ter um herói, mas não existiu nada disso.
Os personagens ficam jogados na história e próximo do final você só quer saber qual será a melhor morte. Fica nítido que não existe salvação pra ninguém. Embarca quem realmente gosta de apreciar produções de terror, mas não uma boa história.
A produção mesclou ótimas atuações com outras bem medianas. As presenças de Pierre L Baitelli como o tenente Robson, que movimentou a trama e deu gás a outros personagens e Carla Ribas como Ana, funcionária recém-demitida da emissora, mas que se vê obrigada a voltar para o local para salvar a sua vida e a do seu filho.
TK (João Pedro Zappa) e Teresa (Luellem de Castro) também merecem atenção. Os quatro vão crescendo a cada cena, mas a história não os sustentam por tanto tempo, não permitindo também que o espectador embarque com vontade. Muitas mortes, rios de sangue, tragédias sem fim e pouco heroísmo. Comportamentos bizarros diante de situações apocalípticas também não deixam levar a produção tão a sério. Reality Z entretê, mas não empolga!