Quem viu o ator Jorge Enrique Abello brilhar na pele de Don Armando no clássico mundial Betty, a Feia, certamente não imagina qualquer outro ator neste mesmo papel, quando nos referimos a versão original. Tampouco imagina toda a história por trás de sua escalação.
Contudo, por meio de uma entrevista concedida à rádio colombiana La W, o ator revelou algo inimaginável para muitas pessoas. Acredite, o personagem Armando Mendoza já estava destinado ao brasileiro Guy Écker, o protagonista de Café com Aroma de Mulher.
E o imbróglio teve início da seguinte forma: Betty, a Feia não seria produzida tão cedo, uma vez que Fernando Gaitán (1960-2019), criador da obra, já estava com essa novela completamente pronta no papel, porém, na gaveta. O canal RCN havia encomendado uma outra novela antes dessa, chamada Hasta que la plata nos separe (Até que o dinheiro nos separe).
Sendo assim, Gaitán convidou Jorge Enrique Abello para ser o protagonista desta novela. “Ele [Gaitán] me chamou para fazer este romance, me deu o personagem principal. Estudei tudo e ele disse: ‘Perfeito, pronto, vamos fazer, adorei'”, contou Abello.
E continuou: “E de repente, na RCN pediram a Fernando Gaitán que não escrevesse mais Hasta que la plata nos separe, mas que ele desse continuidade com uma novela que ficou muito tempo na gaveta dele, que se chamava Yo soy Betty, la fea, por que era mais propícia ao momento econômico que o canal vivia naquela época“, revelou.
O ator relembrou que Gaitán se desculpou com ele pela mudança de planos e disse-lhe que infelizmente para Betty, a feia, ele já tinha outro colega em mente para ser o protagonista masculino, no caso Guy Ecker.
“O Fernando me ligou e disse: ‘Olha, Jorge Enrique, me desculpe, não vou mais contar com seus serviços por que não vou mais fazer Hasta que la plata nos separe, mas vou fazer um romance chamado Yo soy Betty, a feia, e eu gostaria que Guy Ecker fizesse'”, me contou ele. Eu respondi: “Claro, eu não vou competir com Guy Ecker”, revelou ele sobre sua reação.
No entanto, tempo depois Abello foi usado nos testes de elenco para a escolha da atriz que viveria Betty e acabou impressionando a produção da novela por seu desempenho. “Naquela época eles estavam escalando o elenco de outras novelas, incluindo uma chamada Lolita. Eu ia ser boba (personagem).
Ganhei aquele casting (…) E à tarde, o John Bolívar, que era o responsável pelo casting da RCN, disse-me: ‘Olá Jorge Enrique, tenho cerca de 12 atrizes que vão ter que escolher para ser a personagem Betty, e eu preciso de alguém para me ajudar como um parceiro de cena delas’. Eu disse a ele: ‘Eu vou te ajudar’. E naquele dia eu tive que beijar 12 atrizes em cena“.
No dia seguinte, nenhuma das candidatas ganhou o papel de Betty, mas Jorge Henrique sim. “Me ligaram da RCN e falaram: ‘Olha, não escolhemos nenhuma atriz, mas escolhemos você. Quer ser o Don Armando?’. E eu disse: ‘Não, já tenho o bobo da Lolita’, que eu amo, que é um personagem legal, que eu posso interpretar (…) Então eles me convenceram por uns 20 dias e eu não queria ser Don Armando‘”, contou ele, que até hoje é marcado pelo personagem anti-herói.
Felizmente os produtores conseguiram convencê-lo, e quando Jorge Enrique finalmente leu a história, ele se apaixonou. “Eles me convenceram e foi então que comecei a ler a história de Betty. Achei algo excepcional […] Os únicos que acreditaram que daria certo fomos nós. Muita gente disse que não daria certo fazer um romance com protagonista feia“, disse Jorge Henrique.
Abello e todos os outros provaram que estavam certos quanto a Betty, a feia. A novela dominou a audiência colombiana em todo o seu período de transmissão, em 1999. Mais tarde, após seu fim em maio de 2001, o romance espalhou-se como um incêndio em todo o mundo e projetou a Colômbia como referência no setor.
Atualmente, o melodrama já foi transmitido em mais de 180 países, foi dublado para mais de 25 idiomas e tem quase 30 adaptações ao redor do mundo. Além disso, em 2010 foi declarada oficialmente pelo Guinness Book of Records como a novela de maior sucesso de todos os tempos.